No dia 18 de abril de 1882, nascia Monteiro Lobato, considerado o pai da literatura infantil brasileira. Por isso, comemoramos nessa data o Dia Nacional do Livro Infantil.
Para deixar o seu domingo mais colorido, trouxemos esta entrevista com uma escritora consagrada no gênero, Mirna Pinsky. Ela nos conta sobre a trajetória dela e também dá instruções para quem quer se enveredar pelo mundo dos livros infantis.
Mirna Pinsky tem dois livros publicados pela Editora Labrador, o Dando nó na língua e o Sardenta, mas o interesse dela por literatura infantil começa muito antes disso. Em 1978, ela publicou seu primeiro livro infantil. Depois disso, foram publicados outros 48 títulos, totalizando mais de 4 milhões de exemplares vendidos.
Acompanhe a nossa conversa!
EL: Mirna, você é uma escritora de longa trajetória, com mais de 4 milhões de exemplares vendidos. Como foi a sua caminhada para se estabelecer na área de literatura infanto-juvenil? Como foi escrever a primeira história?
MP: É uma longa trajetória, mais de 40 anos… Desde pequena, com oito, nove anos, eu gostava de escrever [sic]. Na adolescência, eu escrevia poemas e, já na faculdade, participei de uma antologia artesanal. Quando minha filha mais velha tinha dois anos, eu comecei a escrever histórias para ela. Nos anos 1970, a Ática lançou uma coleção diferenciada e um dos títulos foi meu primeiro livro – Zero, zero, alpiste. É a história de um menino que não se permitia chorar, “porque homem não chora”.
EL: Quais são as características de uma narrativa infanto-juvenil? Que dicas você daria para uma autora iniciante desse gênero?
MP: A história tem de tocar o leitor. Isso significa dialogar com o momento e a circunstância dele. Falar de temas de seu universo, de sua fantasia, com vocabulário que ele domine ou, pelo menos, [que ele] consiga decifrar. Para autor iniciante, recomendo estar o mais próximo possível do mundo do leitor, entender como pensa e sente. E botar em campo toda a sua intuição.
EL: De onde vêm as inspirações das suas histórias? Como manter uma mente sempre ativa nesse sentido? Existe algum segredo?
MP: As ideias vêm das mais diversas fontes. Observações, histórias que me contam, conversas [que tenho] com crianças e adolescentes. Não tem segredo. Olhar, escutar, intuir…
EL: Você é uma grande realizadora de projetos, e um deles, o Ler Com Prazer, tem um objetivo específico visando alunos na fase de alfabetização. Com a experiência desse projeto, você percebe alguma diferença na relação dos alunos com a leitura, em uma geração cheia de estímulos tecnológicos?
MP: Foi a minha trajetória de autora de livros infantis que despertou o interesse pela alfabetização. A vivência em escolas públicas a partir de 2002 me mostrou que quase 45% dos alunos desses estabelecimentos chegavam à quarta série (na época eram “séries” e não “anos”) sem conseguirem se apropriar da leitura, apesar dos quatro anos em bancos escolares. E o triste é que, passados quase vinte anos, esses dados se mantêm. (Lembrando que mais de 80% de nossas crianças estão em escolas públicas.) Não acho que a internet tenha piorado o quadro [de má formação de leitores]. A internet piorou, sim, a forma e a densidade de como se lê. Um excelente livro a esse respeito, publicado recentemente no Brasil, é O cérebro no mundo digital, de Maryanne Wolf.