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Nos bastidores da autopublicação: uma entrevista com Douglas Eralldo

A gente sempre deixa o melhor para o final, né? #quemnunca Esperamos a sexta-feira para postar a entrevista bem bacana com Douglas Eralldo, criador do blog Listas Literárias. Entre com o pé direito no final de semana lendo o novo post de “Nos bastidores da autopublicação”!

  1. Olá, Douglas, tudo bem? O “Listas Literárias” nasceu em 2009, certo? Você poderia nos contar um pouco sobre como surgiu? De onde veio essa vontade de criar um blog literário?

O blog ”Listas Literárias” foi criado em 2009, a partir de uma necessidade que eu senti de ir além da minha atividade profissional e de querer produzir e fazer algo para a Internet e literatura. Sempre tive essa aproximação com a leitura, o blog, então, surgiu a partir de algo que eu já gostava de fazer. No começo, não tinha todo o conhecimento que tenho hoje, mas já naquela época possibilitava que eu começasse a discutir a respeito de literatura, e foi assim que o “Listas Literárias” nasceu.

Eu tinha a intenção de encontrar um espaço para falar de livros, porque não tinham muitos meios fáceis para discutir literatura: jornais eram sempre muito limitados, até mesmo em sua própria abordagem. Muitos blogs, assim como o “Listas”, nasceram naquela época, em 2009, com esse intuito de encontrar um espaço para discutir literatura e aproveitar a Internet, que naquele tempo apresentava talvez um olhar bem mais utópico do que o nosso presente.

  1. O lema “muito além dos livros” é evidente no blog inteiro. E vemos isso nos 65 mil visitas mensais. A que você atribui esse número alto de visitantes? Sucesso?

A questão do lema do blog – “muito além dos livros” – acompanha o “Listas Literárias” desde o nascimento, até porque a ideia era trabalhar a literatura e todo o seu potencial, inclusive da transversalidade que ela nos proporciona. Muitas listas do blog possuem isso (dialogando com culturas, cinema, arte etc.) e outras que envolvem livros e filmes como arte, mas não apenas a arte demandada dos livros, mas aquela feita com os livros.

A literatura propicia outro tipo de arte com a ilustração – nós fazemos muitos posts a respeito de ilustrações com o intuito de mostrar um conteúdo além da questão do próprio livro. Temos também diversos posts sobre a produção da escrita, a produção literária e outras questões envolvendo leitores, até porque a literatura tem um pouco disso. Como o filósofo Antonio Candido nos mostrou, a literatura tanto impacta como também é impactada pela sociedade. Essa é a ideia do “Listas Literárias”: trazer toda essa relação da nossa literatura, sociedade etc.

Como vocês colocaram na pergunta, nossos arquivos demonstram que nós acabamos indo bem além dos livros e dando toda essa dimensão gigantesca que a literatura tem na nossa dinâmica social.

  1. Para quem não conhece “Listas Literárias”, o que pode encontrar no blog?

Para quem não conhece o “Listas Literárias” com certeza pode esperar encontrar muita diversidade, informação, material e conteúdo original. No início, eu ainda trabalhava muito com listas externas, buscando outros tipos de informações e curiosidades que muitas vezes tratamos no blog, como os recordes literários. Todo o conteúdo é produzido a partir das nossas leituras e também por parceria com autores e editoras, totalizando hoje mais de 3 mil posts desde a criação do blog.

No começo, ainda engatinhávamos bastante, como qualquer blog em sua fase inicial, mas os arquivos continuam lá, para o bem ou para o mal, mostrando nossa caminhada.

Como nosso lema já diz (“muito além dos livros”), temos posts diferenciados que dialogam com a arte, a discussão da própria literatura, entrevistas com escritores e escritoras, guest posts por escritores e leitores do blog. Tudo isso incrementa o conteúdo, que é bastante amplo, e acredito que a grande marca do “Listas Literárias” é a diversidade, exclusividade e originalidade do conteúdo, além de ter sua própria receita, construindo a identidade pelas diversas listas e também pela criatividade, trabalhando com outras ideias que estão espalhadas pela Internet. Acredito que o que marca qualquer blog, canal literário ou rede social é a sua própria identidade.

  1. O serviço de leitura crítica de vocês oferece um feedback de diversas obras. Me chamou a atenção o fato de ser apenas obras de ficção. Você poderia nos dizer se existe algum motivo por essa escolha?

Tem duas questões nas leituras críticas que nós fazemos:

1- A leitura crítica profissional. Nesta, eu aproveito meu histórico e minha recente formação acadêmica para prestar um serviço a autores que ainda estão na modalidade do original, e estão pensando em publicar e escrever seu livro. Aqui o autor contrata um serviço em que oferecemos um relatório completo de leitura crítica. No entanto, essa é a parte do blog que acaba não entrando no “Listas Literárias”.

2- Feedback. Como vocês colocaram, tudo isso não deixa de ser um feedback que também não deixa de ser uma leitura crítica, que são nossas resenhas. Elas são feitas por mim ou pela Gi – colaboradora do blog – ou realizadas com editoras parceiras e autores. Embora sejam resenhas, eu prefiro não chamar assim pelo fato do formato ser diferente – de listas – para manter a identidade do princípio do blog. A ideia é trazer esse feedback das narrativas lidas. Um detalhe importante do “Listas Literárias” é que nós não cobramos por esse tipo de leitura e recebemos muitos autores independentes, autopublicados e de editoras que regularmente não temos parcerias, além de autores que estão se lançando no mercado fora do mainstream, e isso nos dá uma grande oportunidade de conhecer novas obras e ideias, especialmente porque recebemos muito material de literatura. É feito um trabalho muito sério para observar a questão das impressões provocadas pelas análises mais aprofundadas. Pelo fato de essa avaliação ser em formato de listas, nos permite uma abordagem de diferentes pontos de uma mesma obra, seja positivos ou negativos. Aliás, em minha percepção, a resenha, independente de ser construtiva ou não, sempre acaba sendo um serviço de auxílio ao autor, e até por isso que estamos sempre abertos a receber todos os autores nacionais. Por termos uma demanda muito grande de autores que nos enviam originais, acabamos conhecendo muitos que são autopublicados ou publicados de forma independente, e isso nos permite conhecer ótimas obras com grande potencial. Todas as obras enviadas para resenha são lidas e analisadas, e só não são publicadas em caso de sério problema de concepção literária, gramatical e linguística. A questão da ficção explicarei na próxima pergunta.

  1. E por falar em leitura crítica, imagino que você receba muitos originais. Existe alguma pré-seleção? Teve alguma obra específica que te tocou? Por quê?

Sim, recebemos bastante. Trabalho só com ficção porque é o elemento teórico que eu tenho para auxiliar os autores. No âmbito da abordagem, a não ficção exige uma leitura crítica mais ampla. Já a ficção apresenta uma relação forte com a sociedade, e acho que dá para fazer muita discussão a partir disso. É importante nós lermos mais esse gênero no Brasil, e essa é uma forma de incentivar esse tipo de narrativa e novos ficcionistas. Nós recebemos muitas obras novas e autores que estão fora do círculo principal literário, o que nos permite descobrir muita coisa bacana e diferente em todos os gêneros, como literatura de fantasia, literatura fantástica, poesia etc. A primeira resenha que nós recebemos foi um pequeno livro do escritor Allan Pitz, “A morte do cozinheiro”. Isso foi muito antes de ter leituras formais em parceria com editoras, até porque naquela época os autores encontravam nos blogs um espaço, um meio de comunicação que não havia na mídia tradicional.

Isso foi abrindo uma jornada interessante, pois a avaliação também é uma divulgação do autor. O ”Listas” trabalha sempre com essa possibilidade de estar recebendo obras para resenhas. A ficção é nossa preferência no caso de avaliação e leituras críticas, mas a gente também tem muitas obras de conteúdo histórico, de sociologia, linguagem etc.

         6. Além de editor e administrador do blog, você também é autor. Possui mais de cinco livros publicados. Você já teve experiência com autopublicação? Se sim, como foi? Tem projetos futuros?

Sempre li muito desde a época que estudava no Ensino Médio, mas nunca com uma formação muito sólida de leitura. Publiquei “Morgan: o único” em 2011, mas já tinha publicado contos e poemas em algumas antologias, além de publicar textos na Internet. Publiquei dois livros com a editora Literata de forma quase autopublicada. Minha experiência foi como a de vários autores autopublicados, com seus prós e contras, mas que serviu de aprendizado. A forma como publiquei naquela época foi interessante, no entanto, hoje, eu procuro outras formas de publicação, publicando muito mais na internet e pensando em desafios para frente até porque a ideia agora em 2019 é viabilizar a publicação de um noveleta de ficção científica. Estamos estudando o formato dessa publicação, mas, por enquanto, a autopublicação é na própria internet, em e-book. Enquanto não consigo publicar no livro físico, vou publicando nos formatos digitais, mas a ideia desse ano é viabilizar o projeto de uma nova criação literária – até porque sinto que é uma produção interessante e de muito diálogo.

         7. Quais são as expectativas para o blog esse ano?

As expectativas para o “Listas Literárias” esse ano estão na questão dos dez anos do blog. Eu gosto muito de escrever, mesmo com minhas falhas e acertos, e o blog mostra bem isso, especialmente nos seus primeiros posts. A ideia é fazer alguma ação comemorativa até o final do ano com leitores, internautas, autores e escritores, principalmente para resgatar esse tipo de trabalho e o que tem de melhor nesses dez anos de “Listas”, que tem sido um processo de amadurecimento a cada dia. Buscamos melhorar em todos os sentidos – nas nossas avaliações, resenhas e qualidade de posts – e pensamos em algo criativo para a comemoração do blog, que é, na verdade, um hobby, não uma atividade profissional, mas onde se encontram muitas informações interessantes para a própria literatura. A ideia para 2019 vai ser isso, essa efemeridade dos dez anos, produzindo, fazendo algo e melhorando mais a cada dia. É um trabalho de resistência, especialmente nesses tempos tão difíceis para quem pensa em cultura, literatura etc. E ter um blog é um canal interessante para estar discutindo isso com a sociedade.

          8. Na sua visão, o que é indispensável em um blog? Você acompanha alguns? Quais?

Existem muitas listas em nosso blog feitas por blogueiros e parceiros sobre o assunto. Em síntese, acho que a grande diferença é a nossa identidade. Todos os canais e mídias sociais relacionados à literatura têm sua própria receita de funcionamento. A do “Listas Literárias” é quanto à nossa posição crítica, que é fugir um pouco dessa linha de influenciador, e publicar de uma forma diferente. A nossa parte é até mais crítica do que propriamente de influência, embora a gente tenha em torno de 65 mil visitas mensais. Isso é, em parte, porque tem sempre uma novidade e conteúdo exclusivo. Quem procura o blog, sabe que tipo de resenha, avaliação e lista ele pode encontrar. Assim para quem procura o “Homo Literatos”, que é um blog bacana, faz pelas suas qualidades e identidade própria. Quem procura o “Sobre livros” também busca pela identidade do blog e seu tipo de avaliação. Todos têm cada vez mais esse compromisso com a qualidade de serviço, conteúdo e exclusividade, até porque é isso que vai manter a longevidade. Isso acaba sendo indispensável, né? E a perseverança. Fazer blog porque vai dar dinheiro ou fama é seguir um caminho preocupante, porque pode gerar frustações. Cada um tem o seu caminho, método e modo, mas não pode fugir da perseverança, consistência e qualidade no que faz e publica – e da identidade própria, que significa originalidade das suas publicações.

         9. Por último, você poderia nos dizer qual é o seu gênero de leitura preferido?

No meu caso, a questão do gênero preferido varia muito do momento e da época. Em alguns momentos, eu tenho uma enorme preferência por narrativas policiais, mas agora eu tenho feito uma ampla lista de leituras de romances distópicos e ficção científica. Minha biblioteca tem obras de não ficção, sociologia, história (que é um tema que eu gosto muito), romances clássicos, romances modernos e contemporâneos, literatura erótica, fantasia e ficção científica. Então é um pouco de tudo, e o volume de leitura me possibilita ter essa visão ampla dos diferentes formatos e gêneros. É possível perceber uma predileção no blog para determinados gêneros como ficção científica, romance de aventura, clássicos – que cada vez mais tenho me interessado. No entanto, a poesia é um gênero que gosto, mas não tenho familiaridade. Ainda assim, acredito que todos têm a sua contribuição fundamental para a literatura.

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Douglas Eralldo é graduado licenciado do curso de Letras – Português e Respectivas Literaturas pela Universidade Federal de Pelotas – UFPEL, dedica-se à literatura e às linguagens. Em 2009 criou o blog Listas Literárias que neste período já alcançou mais de 4,5 milhões de leitores. Também publica contos e artigos na internet e em jornais. Publicou os livros Morgan: o único (Literata 2011) e O Titereiro dos Mortos (Literata 2013), além de ter participado de antologias e coletâneas de contos, poesias e prefácios de obras. Atualmente colabora com a coluna Contando Histórias no Jornal Destak de Pantano Grande – RS. Na literatura pesquisa e publica artigos na área de critica social e literatura e sociedade.

 

Editora Labrador

A Labrador é uma editora de autopublicação, especializada na publicação e distribuição de livros físicos e digitais para autores independentes.

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