“Ninguém nunca ouve um adolescente. Todo mundo acha que você deve ser feliz só porque você é jovem.” — filme Escritores da liberdade (2007)
Mas assim como qualquer pessoa de qualquer idade, o adolescente tem seus dramas, dores, problemas. É verdade, alguns são próprios de sua idade, de sua transição do mundo infantil para o adulto e de sua adaptação para essa nova realidade, mas a maior parte acompanha uma pessoa até o fim da vida: preconceitos, cobranças sociais, depressão, solidão.
A grande dúvida é: por que submetemos nossos jovens a isso? Melhor dizendo: por que submetemos a nós mesmos? Por que aceitamos uma realidade que, ao invés de abraçar diferenças que podem nos levar a tantos lugares, escolhemos mutilar personalidades e existências para manter uma ordem que apenas suprime nosso verdadeiro potencial?
Se a intenção de Sarah Pires Barreirinhas, com seu livro “As infinitas vidas de Dylan Reynolds”, era abrir nossos olhos e mostrar como somos culpados pelos traumas que vem surgindo nas últimas gerações, ela conseguiu com louvor. Sensível, certeiro e extremamente maduro, seu romance retrata a realidade de muitos jovens: um rapaz negro sofre abusos em casa e, em determinado ponto, perde as esperanças. Seria possível que ele encontrasse a força necessária para seguir em frente em seus irmãos, em seu melhor amigo e em uma nova paixão, que pode estar tão quebrada quanto ele?
Seu livro é, sim, um romance adolescente — e esse é um baita de um elogio. Porque é nessa idade, nesse afloramento da sexualidade e da vida social, que descobrimos todas as questões importantes: quem e por que amamos? O quão longe estamos dispostos a ir pelo amor? O perdão, o ódio, o medo são formas de amar? Não seria fantasioso concluir que adultos (esses oh-tão-sábios-e-experientes adultos) ainda não descobriram as respostas: continuam sendo adolescentes que precisam descobrir o mundo às apalpadelas.
Sarah demonstra a maturidade para abordar assuntos polêmicos que muitos homens e mulheres crescidos desconhecem. Ela encabeça uma nova geração que está debatendo o que realmente importa, onde é seu lugar no mundo e o que o mundo pode fazer por ela. Pronta para lutar pelo que acredita, a autora expõe as consequências de uma sociedade preconceituosa e discriminatória e as vidas que podem ser perdidas para suas regras absurdas. No fim, parece que são os adultos que não estão prontos para viver no mundo real: os jovens se farão ouvir.
Muito interessante! A descrição nos deixa tentados a ler. Parabéns Sarah, que seja um sucesso!