Somos criados (e principalmente criadas) para idealizar o amor como sinônimo de felicidade – ou melhor, o amor conjugal. Não há nada de errado nisso: encontrar um parceiro, formar uma família, dividir-se e divertir-se é uma das maiores alegrias que alguém poderia sentir. Mas e se o amor acabar? E se não acertarmos de primeira, estaremos fadados à infelicidade eterna?
“Sopro no espelho” tem respostas para essas dúvidas. O livro chega não como um manual para lidar com a separação, nem como um guia de passos ou fórmulas para resolver a vida desacompanhada: sua proposta, mais realista e empática, é mostrar que “existe uma luz no final do túnel”, (e não é do trem vindo na contramão), com relatos, experiências e de mulheres que enfrentaram o divórcio e encontraram forças desconhecidas dentro delas mesmas. É por meio dessa partilha sincera de dores e superações que o livro se constrói simplesmente para nos mostrar que esse desafio doloroso não é o fim do mundo – mas a possibilidade de uma vida nova.
A principal interlocutora, claro, é a própria autora, Flora Botelho. Depois da separação, sua nova realidade a levou a remodelar sua visão de mundo e, mesmo que a princípio tudo se mostrasse assustador e quebrado, a guiou para uma nova versão de si mesma, mais forte e mais independente, dona de seu próprio caminho.
É impossível não perceber e enaltecer a coragem e a determinação com que ela tão sensivelmente descreve suas memórias do período: desde a dor ao perceber que não poderia salvar seu casamento até refazer-se por completo e encontrar um novo amor. E é impossível não identificar a si mesmo ou uma amiga que passou por essa situação, que sofreu e ainda sofre com essas cicatrizes. São relatos assim que nos aproximam, nos humanizam e nos possibilitam fazer trocas para crescer e evoluir – acompanhados ou sozinhos.
“Sopro no espelho” de forma alguma incentiva o divórcio ou se mostra contrário ao casamento, pelo contrário: é sobre ter a maturidade para entender que o amor não é aquela fantasia perfeita que criamos na nossa cabeça quando crianças, que existem obstáculos que podem tanto separar as partes quanto uni-las, que é complicado, cheio de espinhos, cansativo e muitas vezes (muitas mesmo) ele pode não ser o certo. E que tudo bem desistir de um amor, porque existem muitos outros mundo afora (e adentro) para serem descobertos. A única parte em que não erramos é na sua beleza e que devemos procurá-lo sem medo ou reservas: seja em outra pessoa, seja nos nossos sonhos, seja dentro de nós mesmos.