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Outubro Rosa: uma conversa com as autoras Marina Arruda e Marcela Dangot

Dia das Crianças, Dia do Livro, Halloween… Tudo isso em um único mês. Mas fora todas essas comemorações, o mês de outubro tem sido essencial para a luta contra uma doença que acomete milhares de mulheres todos os anos: o câncer de mama.

O Outubro Rosa, nome dado à campanha, acontece mundialmente e visa à disseminação dos cuidados preventivos ao câncer. O autoconhecimento tem sido uma ferramenta importante para que mais mulheres sobrevivam e tenham qualidade de vida.

A Labrador tem a honra de contar a história de superação de mulheres que passaram pelo câncer, e uma delas é Marina Arruda, designer de interiores, que aos 31 anos foi diagnosticada com câncer de mama. Em 2019, ela escreveu o livro Não se acostume com a vida, contando como enfrentou a doença com coragem e esperança.

Já em 2020, tivemos o prazer de editar o livro A careca da mamãe, da autora Marcela Dangot, que de uma maneira descontraída conta para as crianças o que é o câncer.

Marcela é formada em jornalismo e professora de yoga. Na segunda vez que foi diagnosticada com câncer de mama, pensou em como poderia contar para as filhas, que na época tinham 3 e 6 anos, e decidiu escrever um livro infantil para tratar do assunto.

Para registrarmos o quanto achamos importante esse mês, convidamos as duas autoras para uma breve entrevista, segue:

Entrevista Marina Arruda

A escrita do livro aconteceu depois de seu processo de recuperação? Como veio a ideia? 

Foi ainda durante o tratamento. Comecei a escrever na última etapa, a da radioterapia, como uma forma de organizar meus pensamentos e os conteúdos com os quais vinha tendo contato, lendo, estudando, e que estavam me favorecendo muito no entendimento e aceitação daquela situação crítica. Estava conseguindo resignificar o momento e lidar com naturalidade com os acontecimentos. Senti então que aquilo poderia beneficiar mais pessoas, por isso pensei em transformar esses escritos em um livro, embora essa não fosse a pretensão inicial. Mas foi uma decisão acertada, pois os depoimentos que recebo são incríveis, e o livro me levou para lugares também especiais, onde pude passar uma mensagem de otimismo e trocar experiências.

Fala um pouquinho sobre o título, que chama atenção e serve quase como um alerta.

O título surgiu como um insight e é bem forte, porque tem um duplo sentido. Primeiramente penso em “Não se acostume com a vida” como a conclusão de que a vida sempre nos surpreende; é pura impermanência e inconstância, e tudo pode mudar inesperadamente, ou seja, devemos estar preparados e cultivar uma postura flexível diante do que nos acontece, para assim sofrermos o mínimo possível com as mudanças. Segundo, “Não se acostume com a vida” é um alerta de que não convém banalizar o sentido da vida vivendo no piloto automático, perdendo o encantamento diante da magnitude e beleza que a constituem, próprias da experiência de viver, apesar de qualquer problema ou crise. Essa é a receita para viver com plenitude, cultuar esse encanto, criar um sentido para o que vivemos.

O seu livro demonstra um processo interno, não linear e intenso de alguém muito jovem com uma doença muito grave, e em muitos pontos o autocuidado foi citado como tratamento. Você acredita que escrever fez parte desse tratamento?

Sem dúvida! Sempre gostei de escrever, e foi uma prática que logo adotei e que se mostrou fundamental na promoção de reflexão, reinvenção e reapropriação – de mim, da minha história, do futuro que queria criar a partir daquele trauma, que parecia a sentença de uma paciência oncológica. Reescrevi meus planos e projetos, uma narrativa de alegria e sucesso para mim, e fui atrás dessa concretização.

Se você pudesse citar só uma mudança significativa de quem você era para quem você se tornou depois de tudo que aconteceu, qual seria? Você falaria alguma coisa para a Marina de antes do diagnóstico de câncer?

Falaria muitas coisas, pois ela era bem mais insegura, mas basicamente ressaltaria sua força interior e potência, que estavam adormecidos, e o quanto ela era (é) digna das melhores coisas da vida (como qualquer um de nós!). Aprendi com a dor a ser ainda mais resiliente, qualidade de quem se adapta e segue conforme pode rumo ao que idealiza; com as ferramentas, recursos e condições disponíveis; com criatividade, sem desacreditar que é possível e que temos tudo para gozar do melhor que a vida tem para oferecer.

Muitas mulheres não param para se olhar durante a rotina da semana intensa e isso pode ser um risco à saúde. O Outubro Rosa é uma campanha para que a gente pare por alguns minutos para se olhar. O que você acha importante acrescentar no cotidiano de mulheres que muitas vezes são pegas de surpresa como você foi?

Elas não podem se esquecer de que são a prioridade de suas vidas, não de forma egoísta, mas amorosa – pois se estiverem bem, sadias e felizes, tudo ao redor delas também estará bem. Que se investiguem, se conheçam, se toquem, se cuidem, se amem! O bem que podemos fazer a nós mesmas ninguém mais pode fazer; não há dinheiro ou tecnologia avançada que traga mais benefícios do que amor-próprio.

Entrevista Marcela Dangot:

Ser mãe e ser diagnosticada com câncer de mama é um processo duplamente difícil, mas que você remodelou, contou de outra maneira que a vida tem seus obstáculos. Quando e como veio a preocupação sobre como falar disso com as crianças?

Na segunda vez que recebi o diagnóstico, minhas filhas tinham 6 e 3 anos, as duas são supervaidosas. Quando soube que iria fazer quimioterapia de novo, minha preocupação foi como iria contar e explicar que meu cabelo iria cair mas que depois ele voltaria! Não queria que isso fosse recebido de uma forma muito negativa, e sim que iria passar. Queria que, apesar dos momentos difíceis, tudo fosse recebido de forma leve e lúdica.

Você encontrou mais livros ou outras coisas que te ajudassem nesse processo de falar com as crianças, de dizer que não está tudo bem, mas que isso acontece na vida dos adultos?

Os livros que encontrei não eram tão infantis e a linguagem era muito pesada! Então conversei muito e expliquei que era uma fase, que iria passar!

Quando foi que você escreveu esse livro, foi durante o tratamento, depois?

Resolvi escrever o livro quando não encontrei nenhum que falasse desse tema abertamente e direcionado para criança. Escrevi durante meu tratamento, nas primeiras sessões de quimioterapia.

Escrever um livro, ter um projeto tão bonito, fez a diferença no seu processo? Escrever foi um aliado?

Com certeza, me ajudou a encarar e falar abertamente sobre o tema! Meu maior presente hoje é poder ajudar as mulheres que passam ou passaram por isso, e ter encontrado um caminho para auxiliar instituições e projetos que tenham como propósito tratar e cuidar de pessoas com câncer (toda renda das vendas do livro é doada).

Editora Labrador

A Labrador é uma editora de autopublicação, especializada na publicação e distribuição de livros físicos e digitais para autores independentes.

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