Já é Halloween? Já estamos na época de fantasmas e bruxas? Não! É apenas a nossa entrevista mensal “Nos bastidores da autopublicação” que conta para vocês um pouquinho sobre o trabalho de um ghostwriter, Já ouviu falar sobre o escritor fantasma? Não? Então se prepare que nosso entrevistado, Newton Santos, nos conta tudinho sobre a profissão! Confira abaixo a entrevista na íntegra:
- Muitas pessoas não sabem o que é um ghostwriter – você poderia explicar um pouquinho o que faz esse profissional?
Nem todas as pessoas sabem contar uma piada ou uma história. Não porque não conheçam o seu conteúdo nem porque não dominem o idioma, mas porque a oralidade que causa impacto é uma habilidade e, como tal, não é uniforme em todas as pessoas. Do mesmo modo, nem todo mundo se expressa bem por escrito – por falta de jeito, de tempo, de hábito, de paciência… Enfim, um ghostwriter é um profissional que traduz em palavras escritas uma história que alguém gostaria de contar, de tal maneira que a pessoa, ao final do trabalho, diria: “é assim mesmo que eu me expressaria”.
- Como você entrou nesse ramo? Sempre teve contato com a escrita?
Sendo jornalista e escritor desde o final da década de 1990, recebi sugestões e recomendações de amigos e clientes para trabalhos nesse ramo de ghostwriting – acabou sendo um processo natural.
- Você já trabalhou como ghostwriter para outras editoras ou a Labrador foi seu primeiro contato no ramo editorial?
Já tinha trabalhado com outras duas editoras antes.
- Como é o seu processo de escrita? De onde você consegue inspiração para escrever a fundo sobre diversos temas? Existe alguns temas que são mais fáceis?
O segredo é manter o foco na história do cliente, entender a maneira como ele se expressa e buscar retratar a história pelos paradigmas do cliente. As histórias podem ser mais ou menos interessantes, mais ou menos detalhadas, mais ou menos complexas. Mas, em um trabalho bem feito, é sempre possível contar bem uma história.
- Quão importante é o contato com o autor durante o processo de ghostwriting?
Fundamental. Se esse contato não envolver respeito, confiança e dedicação mútuos, o resultado do trabalho tende a ser insatisfatório. Afinal, não se trata de um trabalho autoral, no sentido de próprio, mas sim de representar o autor, com todas as suas idiossincrasias, na obra.
- Conte-nos um pouquinho sobre sua experiência mais difícil como ghost.
A experiência mais difícil que tive nessa área foi escrever para um cliente que já era escritor, e dos bons. O trabalho ficou empacado durante um bom tempo no início, porque ele queria um digitador, e não um ghostwriter. Quando percebemos isso, tudo ficou mais fácil e o trabalho chegou a bom termo.
- Qual conselho você daria para futuros ghostwriters? Quais as três dicas essências?
Para quem gosta de escrever, trata-se de um ótimo nicho profissional. Mas é fundamental ter em mente que: a) a obra é do cliente, e não sua – portanto, é ele quem tem de ficar satisfeito em primeiro lugar; b) é imprescindível encontrar rapidamente a forma como o cliente se expressa em todos os âmbitos: na fala, na linguagem corporal, nos gestos repetitivos, nas palavras favoritas – a ideia é ser capaz de reproduzir a maneira do cliente se expressar, mas em palavras escritas; c) resistir a interferir no sentido de querer “embelezar” certas histórias ou “suprimir” certos trechos – um ghostwriter não se envolve, ele se mantém neutro e presta um serviço.
Newton César de Oliveira Santos, 53 anos, é professor de idiomas, jornalista, microempresário, escritor, tradutor e revisor de textos. Trabalhou na Agência Estado durante três anos como jornalista econômico e é professor há 33 anos. Em 2007, abriu uma escola de idiomas. É autor de quatro livros, tradutor de dois e ghostwriter de outras três obras.