A depressão tem afetado cada vez mais a vida de jovens, adultos e idosos em todo o mundo. Os sintomas, quando negligenciados, podem levar à morte, e por isso uma campanha foi desenvolvida para a conscientização do tratamento: o Setembro Amarelo, criado para convergir com o dia 10 de setembro, Dia Mundial de Prevenção do Suicídio.
Aqui no Brasil, uma das mais antigas e importantes ONGs vem atuando firme nessa campanha: é o Centro de Valorização da Vida (CVV ou, como é mais conhecido, Como Vai Você?). Entre suas principais atividades, destaca-se a central de atendimento CVV, que atende e ajuda através do número 188, em qualquer dia e horário.
Nós da Labrador entendemos que, entre as várias atitudes que podemos tomar para ajudar o tratamento, estão as atividades que nos dão prazer, como a leitura e a escrita. Acreditamos no potencial do livro enquanto ferramenta auxiliadora.
Por isso, convidamos o nosso autor Daniel Burd para conversar sobre o seu livro Eu e minha depressão, onde ele conta sobre a rotina, as melhorias e o que fez para que lidar melhor com essa doença.
1) O seu livro pode ser lido como um manual bem humorado de alguém que passou por muitas fases da vida com depressão. Esse sempre foi o seu desejo em relação ao livro? Qual era o seu objetivo contando a sua história?
Com os anos, com muito sofrimento, acabei desenvolvendo um repertório de ferramentas e comportamentos que permitiram que eu vivesse muito bem com minha depressão. Meu objetivo com o livro foi de compartilhar esses aprendizados. Para que outras pessoas possam viver melhor com a depressão e, quem sabe, também possam ajudar seus entes queridos que enfrentam esse desafio.
2) No livro, você cita as suas estratégias de recuperação, como ler e ver um filme. Escrever também fez parte disso? Qual a relação da sua escrita com a depressão?
Pesquisas comprovam a eficácia da escrita na redução dos sintomas de depressão. Quando colocamos no papel o que estamos sentindo, com detalhes e reflexões, ampliamos a nossa compreensão. Outro benefício é traçar uma linha do tempo dos nossos estados emocionais. Esse registro ajuda muito quando procuramos um profissional da saúde. É frequente a confusão sobre datas e períodos que estamos em um dado estado. A escrita serve como uma evidência mais confiável.
3) Ainda há muita desinformação sobre a depressão no Brasil – o que poderia ser uma solução (ou soluções) para desmistificar a doença?
Sem dúvida a informação é o melhor caminho. Procurar se educar sobre o que é a depressão e quais os caminhos para tratá-la é um passo imenso. As questões de saúde mental vêm ganhando um bom espaço nas mídias de uma forma geral; o que é ótimo. Tem-se falado muito mais sobre esse tema. Ainda há muito preconceito, muito medo. Alguns acreditam que os transtornos mentais sejam “frescura” e que com força de vontade tudo se resolve. Outros temem expor suas dificuldades, pois podem ser taxados de fracos ou de malucos. Temos um longo caminho pela frente, um caminho de desmistificação de amadurecimento e carinho.
4) Você acredita que a pandemia tenha agravado o número de casos de depressão no Brasil? Quais foram alguns recursos que você usou para ficar bem em meio ao isolamento e poderia compartilhar para ajudar quem esteja se sentindo sozinho ou aflito com o vírus?
A pandemia agravou não só no Brasil, mas no mundo todo sintomas de depressão e outras questões de saúde mental. Senti pouco, no meu caso, pois minha rotina já era bastante reclusa. Já trabalhava em casa, já saía pouco. Sou um introvertido de carteirinha. Mas tenho visto bons movimentos para se manter saudável ou para recuperar o equilíbrio. Há muitos psicólogos fazendo atendimento on-line (eu faço terapia), há lives tratando do tema saúde mental. Há programas de exercícios físicos. A pandemia é uma oportunidade para explorarmos outras formas de aprendizado e de relacionamento. É um grande desafio para muitas pessoas, mas também é um momento de grande aprendizado.
5) O que acha do CVV? Já teve algum contato com eles?
Não tive contato com o CVV. Mas tudo que li sobre eles é favorável. Acredito que sejam extremamente competentes.
6) Qual seu próximo passo como autor?
Não estou trabalhando em nada. Mas gostaria de escrever um livro bem simples e direto sobre meditação e quem sabe outro sobre a metodologia de produtividade GTD. São duas ferramentas que uso no meu dia a dia e que me dão muita qualidade de vida.