É uma preocupação generalizada entre os pais que as memórias de seus filhos estejam se resumindo a muros altos e ruas vistas apenas pela janela do carro. Para eles, infância se vivia no asfalto, sem limites para o resto da cidade, correndo com irmãos e vizinhos. Mas a nova geração tem outras demandas e um novo repertório, que não necessariamente significa algo ruim ou “menos criança”: é apenas diferente.
Foi por assistir e vivenciar essa nova infância de perto, que uma mãe entendeu as semelhanças e os contrastes entre a etapa que vivia seu filho e a que ela própria viveu, e, inspirada por ele, decidiu escrever sobre suas memórias.
Assim nasceu Meninada da Vila, escrito por Stela Greco Loducca e vivido por mais de trinta crianças em uma vila no Itaim Bibi. No formato de crônicas, o livro traz diversos episódios vivenciados pela autora, seus irmãos e seus vizinhos, com uma linguagem leve e bem humorada, que provoca a identificação tanto do leitor adulto quanto do infantil: no primeiro, pela nostalgia ao relembrar dos elementos tão característicos da infância dos anos 1980 e 1990; no segundo, por reconhecer a engenhosidade e a alegria que só uma criança sabe sentir.
É até um pouco difícil definir se o livro foi escrito por uma adulta para as crianças ou se são as recordações de uma criança para os adultos. Ler Meninada da Vila traz ao adulto aquela lembrança da família na mesa da cozinha, das brincadeiras com os vizinhos e até daquela pessoa que se foi há muito tempo, mas ao invés de sentir a saudade triste, busca a memória engraçada que arranca lágrimas de tanto rir. Já para a criança, traz uma realidade que não lhe é totalmente estranha, onde ela identifica o lúdico e a diversão tão característica da sua idade, mas que ainda assim é outra forma de experimentar a infância.
Stela Greco Loducca, portanto, cria uma visão de mundo muito sensível, tão particular das crianças, mas que todo adulto reconhece, servindo-se de uma comicidade sutil e particular, e que leitores de todas as idades apreciam porque a compartilham. É na simplicidade da sua linguagem e dos episódios narrados que se constrói esse humor puro e despretensioso, quase infantil – não aquele produzido para crianças, mas produzido pelas crianças, quando, em uma inspiração súbita, elas resolvem nos contar uma de suas aventuras e, diante de tanta inocência e sagacidade, não temos outra opção a não ser rir.
Parabéns Stela!