Ler é um caminho sem volta. Quando nos permitimos abandonar a realidade para ser transportados para o desconhecido, já não somos os mesmos ao retornar – isso se quisermos retornar. A cada novo livro, um novo pedacinho em nós toma forma, e, pouco a pouco, crescemos como pessoas.
Para as crianças, seres naturalmente em formação, a leitura é como a água que se une ao cimento: vai conectá-la à cultura, à história, aos ensinamentos compartilhados com sua família e o resto do mundo, e lhe dará uma base sólida e concreta para que se firme como indivíduo.
Curioso que Mariquinha e Marialba, à parte o fato de ser um livro para crianças, abre sua história justamente com uma leitura: a narradora conhece as peripécias das duas meninas porque leu em um livro de capa amarela. Se elas existiram ou não, é irrelevante: o que conta é essa partilha, essa coparticipação das memórias que trazem lições.
Esta é a palavra certa: memória. Porque livros são feitos de lembranças (algumas vezes imaginárias) tão importantes que mereceram ser eternizadas. Algo dentro delas precisava ser repassado, portanto virou leitura.
Uma vez que virou leitura, essa memória será passada adiante, para solidificar e lapidar outros seres em formação. Foi o que pensou a narradora de Mariquinha e Marialba: ela leu e aprendeu com o livro de capa amarela, e a lição aprendida foi tão profunda e marcante que ela mesma resolveu transmiti-la – desta vez, em um livro de capa azul.
E qual é a lição de Mariquinha e Marialba? Sobre o mar? A família? As diferenças? As crianças e suas traquinagens? Talvez a lição em si não seja o foco, pois um bom livro sempre permite múltiplas interpretações e, por consequência, múltiplas lições. O que, sem sombra dúvida, as meninas Mariquinha e Marialba querem ensinar é que uma boa história – e uma boa lembrança – sempre merece ser (re)contada.