Ler um conto é como descascar uma cebola: no exterior, existe uma casquinha fina e quebradiça que precisamos retirar para encontrar camadas e mais camadas de algo que ainda não temos certeza do que é. A cada fatia que destacamos, mais potente fica seu gosto e cheiro, desnudando um interior brilhante, crocante e úmido. E, ao final, temos uma grande e deliciosa salada.
Se podemos comparar o conto a uma salada, os Fict-essays e contos mais leves de Bert Jr. têm o potencial de compor um buffet inteiro. Seu conto VegaLight, aproveitando o gancho alimentício, é um bom exemplo para o gênero: aparentemente simples (uma influencer vegana que descobre um irmã onívora), o conto atinge o equilíbrio perfeito entre evento banal e profundidade psicológica.
Os recortes temporais são ideias: se inserem em um ponto aleatório da vida de seus personagens e se retiram deixando certa margem para uma continuação. Quando terminamos, temos a sensação de que muita coisa aconteceu – e ainda assim não parece o suficiente. Foi realmente o fim ou apenas uma reflexão?
E, impossível deixar de comentar, a dose generosa de comicidade dá o tempero que faltava para uma degustação completa. Não se trata de um humor óbvio e piadas prontas, mas uma construção inteligente, irônica e sutil, mas que nem por isso deixam de provocar uma boa risada.
O conto se define como um texto curto que possui a “capacidade de apontar o sentido profundo mesmo de acontecimentos na aparência banais”, ou seja, ver significado em algo comum. Em Fict-essays e contos mais leves, vemos essa definição se concretizar em uma coletânea de contos potentes e suaves. Como uma cebola.
