F.M.M.
Biografia?
Que há de ti
senão versos?
Neles me verti
e traduzido
me entendi, me perdi
ou se não
Nos álbuns de fotografia
miragens retroativas
Nas fintas redes sociais
Nos anais
do bairro de infância
Numa história de família,
imprecisos sinais
Num quintal vazio
o barro, informe, sequioso
Guardas a memória, talvez,
de vidas superiores,
de um qualquer início
ou termo afim?
Não, no mais ermo de mim
o que haveria de ser?
Existe um anseio, sim,
E neste ansiar
Ora me atino, ora me rejeito
ou me equalizo
Me iludo
ou me empenho
Há uma fé,
um épico arbítrio,
uma poética eleição,
um imperativo dialético
És verossímil além da física?
Sou, se a intuição do todo
dita o curso do ser
O cânone inexorável é embate
No seu afã é que sou
sou o ato e sou seu fato
o mito é o que se esvai
em versos inda que imorais
apenas incertos fractais
Complexos, navegamos
entre imaginários e reais
caóticos, aleatórios, curiais
entre contagiosos e geniais
inócuos e brutais
profícuos e incondicionais
insontes, pedantes e acidentais
Biografia?
Temerária
Quem ousaria vir verificar-me?
Um anjo desvairado
Mas faz tanto tempo,
tantas personagens, linguagens,
e a escada e a extraordinária visão
dos limiares instáveis
o fulgor da permanência
das cópias murmuradas
participantes participáveis
Possamos estar qual irrevogáveis